terça-feira, 26 de maio de 2009

Se prender o bicho foge

O Paraná amanheceu apreensivo nesta segunda-feira (25) com a notícia de que 200 presos se rebelaram e fizeram dois detentos como reféns, numa cadeia pública no município de Telêmaco Borba, região central do estado do Paraná. Toda rebelião deixa a sociedade apreensiva, afinal ali estão policiais militares e civis, carcereiros e, mesmo se tratando de criminosos, a maioria das pessoas não gostaria de ver uma carnificina como já ocorreu em diversos presídios do Brasil.

Não diferente de outros presídios brasileiros, a cadeia pública de Telêmaco Borba está superlotada. Aliás, quando nós da imprensa dizemos que uma cadeia está superlotada, muitos gritam aos ventos que somos sensacionalistas. Mas neste caso, estamos falando de um local com 20 celas com estrutura para quatro detentos cada uma. Ou seja, a cadeia tem capacidade para 80 presos e está com 200. Seria mais ou menos como colocar 12 pessoas num carro de passeio que tem capacidade para cinco, e viajar por semanas, meses, anos...

Esta mesma cadeia foi manchete nacional há poucos dias. 15 presos cavaram um túnel e fugiram sem que ninguém percebesse. Aí eu faço a primeira pergunta para o nosso excelentíssimo Secretário de Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari: Como é que presos cavam um túnel, capaz de permitir que 15 pessoas adultas possam passar, em uma cadeia relativamente pequena, e ninguém vê ou escuta?

Depois da fuga, 11 dos 15 presos foram recapturados e encarcerados na mesma cadeia. Talvez para terminar a obra das galerias subterrâneas e assim diminuir de uma vez a superlotação da cadeia. Então eu faço a segunda pergunta para o nosso Secretário: depois da fuga, não seria inteligente uma ação imediata na cadeia? Será que não dava para imaginar que alguma coisa estava errada naquele lugar e que uma rebelião ou outras fugas aconteceriam?

Durante a cobertura da rebelião, eu recebi uma informação de que a polícia tinha autorização para invadir a cadeia. Imediatamente passei a informação para os ouvintes da rádio. Em minutos eu recebi uma ligação da SESP dizendo que eu estava equivocado, que a Secretaria não havia autorizado nada, e que cabia a decisão de invadir apenas a polícia. Ou seja, tinha autorização.

Quanto o espetáculo terminou – felizmente sem vítimas - eu tentei ouvir o senhor Luiz Fernando Delazari, naturalmente para saber como foi o desfecho da operação e para ele responder as questões acima. Como de costume, ele não achou que o povo merecia uma resposta. Então eu arrisco um palpite para as perguntas.

Ninguém viu ou ouviu os detentos “construírem” o tal túnel porque haviam 200 presos onde cabem 80. Quem é o carcereiro que tem coragem de entrar num lugar desses para averiguar se algo está errado?

Não tomaram nenhuma providência depois da fuga porque não tem para onde transferir a bandidada. Todas as cadeias do Paraná estão com os mesmos problemas de superlotação. Sequer foi possível transferir os fugitivos recapturados. E para piorar, depois da rebelião desta semana, 16 celas da cadeia ficaram destruídas e os 200 presos estão - não imagino como - amontoados em quatro celas que tem capacidade para 16 presos.

Relembrando uma declaração recente do governador Roberto Requião, descrita no texto abaixo aqui do blog, em que ele sugeria para que os jornalistas ficassem uns dias presos nas novas celas modulares do Centro de Detenção Provisória da capital a fim de produzir uma “boa matéria”, eu aproveito para sugerir ao Governador e o Secretário de Segurança para que eles passem 24 horas numa das celas de Telêmaco Borba para que eles possam produzir um “bom projeto” de solução para a superlotação das cadeias do Paraná.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

As favas com o foro privilegiado

Eu não sei o que me irrita mais. Um deputado que mal saiu dos cueiros, com mais de trinta multas, a maioria delas por excesso de velocidade e que causa a morte de duas pessoas inocentes no trânsito, ou a hipótese dele poder contar com o tal foro privilegiado para responder pelo assassinato que cometeu.

Agora, deve-se lembrar que o caso do deputado paranaense Fernando Ribas Carli Filho, que matou duas pessoas num acidente aonde ele vinha com seu “carrão” abarrotado de air bags a 190 km por hora, não é o único caso de crime de trânsito onde as únicas pessoas que pagam são as vítimas e os familiares.

Crimes de trânsito no Brasil são tratados com menos rigor do que as próprias penalidades aplicadas por estacionar de forma irregular no centro da cidade. Eu ouso a desafiar qualquer um que tenha um caso real em que o causador de uma morte no trânsito tenha pago pelo seu crime. Abro aqui o espaço para qualquer promotor ou juiz que tenha aplicado uma pena digna de diminuir a dor de uma mãe, de um pai, ou de um filho que teve seu ente arrancado pela irresponsabilidade de um criminoso.

Eu descrevo um caso de impunidade que já se arrasta há dez anos. Em abril de 2000, uma motorista chamada Ângela Proença de Oliveira, dirigia o seu Peugeot 206, bêbada e em alta velocidade por uma rua de Curitiba as 5hs da madrugada de um domingo. Furou um sinal e bateu num Versailles. Saldo do “acidente”: duas mortes. Dois garotos de pouco mais de 18 anos. Como se nada tivesse acontecido, ela entrou em outro carro e foi para casa, esperou amanhecer e foi até uma delegacia para prestar queixa de roubo do seu carro.

Anos depois, e com muito empenho da família e de um escrivão de polícia de trânsito, o inquérito foi concluído e comprovado que a anta, ou pior, a Ângela era a motorista que causou o acidente. Porém, de nada adiantou o polícia ter feito o trabalho dela se a justiça não faz o seu papel. Até onde se sabe, a causadora é chamada a prestar esclarecimentos mas, simplesmente, alega estar com problemas de saúde e não comparece. E nada acontece. E nunca vai acontecer porque crimes de trânsito são tratados com desleixo no Brasil. E mesmo que ela comparecesse, no máximo iria ter que pagar cestas básicas ou fazer algum serviço social mal feito.

Qual a diferença entre tirar uma vida com um tiro de pistola no sinal, ou num ato irresponsável dirigindo um carro? Pelo menos o bandido é assumidamente um bandido. Talvez seja até mais digno do que esse deputado ou essa marginal do volante. As favas com esse papo de foro privilegiado.

sábado, 9 de maio de 2009

Médico escreve mal, e fala pior ainda

Atire a primeira pedra aquele que nunca xingou (pela costas ou mentalmente) um médico quando foi tentar ler a receita que ele entregou ao fim da consulta. Qual é a dificuldade de redigir três ou quatro frases (que é o máximo que eles escrevem numa receita) com uma grafia decente?

A discussão sobre a caligrafia dos médicos nas receitas aplicadas aos pacientes é bastante antiga. Arriscaria dizer até que é de propósito. Uma espécie de bandeira dos profissionais de avental branco.

Porém, no Paraná, a Vigilância Sanitária multou três médicos pelos seus garranchos em receituários. Ótima atitude para baixar um pouco a crista dos doutores que, diga lá, podiam dormir sem essa se respeitassem um pouco mais as pessoas. Já é difícil ler o nome e as características dos medicamentos na própria bul, dado ao teor científico aplicado no texto, imagina tentar ler por meio de rabiscos.

Agora, o mais curioso no caso destes médicos multados no Paraná, foi o comentário em defesa própria de um deles. Um médico do Sistema Único de Saúde (SUS), que foi denunciado pelo próprio posto de saúde onde trabalha, declarou que “tanto faz a forma como ele venha a redigir as receitas, uma vez que os pacientes do SUS são todos analfabetos”.

Vou recorrer ao saudoso poeta Mario Quintana, que disse num anúncio para uma feira literária: “o verdadeiro analfabeto é aquele que aprendeu a ler e não lê”. No caso do médico sabidão, aprendeu a escrever, e não escreve. Perdeu uma ótima oportunidade de ficar de boca fechada não doutor? Ou como diria um certo chefe de estado: ¿por qué no te calla?
Pérolas do Requião

O governador do Paraná, Roberto Requião, entregou esta semana mais uma porção de celas modulares no Complexo Penitenciário de Piraquara, Região Metropolitana de Curitiba. São celas construídas dentro do complexo, para aumentar a capacidade de presos e – tentar – desafogar as superlotadas delegacias. Cada cela tem capacidade para 12 presos, mas não me admira se logo tivermos que noticiar a superlotação nestas celas também.

Naturalmente, todo o evento que envolve o governador do estado está cheio de jornalistas. Afinal, esse é o nosso dever junto à sociedade: informar o que pode interferir, de alguma forma, na vida das pessoas. Agora, quando se trata de Roberto Requião, a cobertura jornalística sempre espera um showzinho paralelo ao tema central do evento. Relatos de que o atual governador do estado agride verbalmente, e até fisicamente, jornalistas que fazem perguntas que ele não gosta são comuns nos corredores da imprensa paranaense.

Enfim, eu tive a minha primeira experiência real de conferir a fama de “louco” do ilustre governador Roberto Requião. Já no primeiro bloco de perguntas, um repórter o questionou se o estado iria por em dia as sentenças paradas nas mãos dos juízes, que lotam as delegacias e casas provisórias de detenção por conta da morosidade nos processos. Tive até certa “pena” do pobre repórter. Por um momento eu achei que ele iria apanhar do governador. Mas ficou apenas na agressão verbal e na interrupção das perguntas. A cena foi curiosa porque contava com a ajuda do cenário. Imagina um governador saindo de dentro da cela de uma penitenciária e atacando um repórter. No mínimo inusitado, infelizmente.

Porém, como o melhor sempre fica para o final do espetáculo, Requião não podia deixar por menos. Antes de entrar no carro para sair do cadeião, o governador fez o seguinte comentário em frente a dezenas de jornalistas: “os jornalistas deveriam ficar um tempo trancados dentro dessas novas celas para fazer uma boa matéria”.

Mesmo com as pernas trêmulas, morrendo de medo de apanhar do governador, eu não me contive e rebati imediatamente com a pergunta: “o senhor ficaria junto conosco, governador?”.

Confesso que, antes mesmo de terminar a pergunta, pensei em começar a correr. Mas para a surpresa de todos, principalmente a minha, ele respondeu sereno: “Eu não! Mas tem muito governador por aí que ficaria”.
Deputado: um risco eminente

O que levaria o deputado estadual Fernando Ribas Carli Filho, eleito aos 24 anos de idade, com quase 50 mil votos, a dirigir seu carro, um Passat alemão novíssimo, a 190 km/h, numa importante rua de Curitiba, na madrugada de uma quarta-feira qualquer? Muito me admiraria se o precoce deputado estivesse a caminho de atender um chamado de um dos seus milhares de eleitores. Mas isso, eu duvido.

O problema é que, independente do que ele iria fazer, a sua imprudência causou duas mortes. Duas pessoas que, juntas, não somavam 50 anos. Duas pessoas que ajudaram o deputado a comprar o seu Passat alemão. A velocidade do carro do deputado era tão absurda, que testemunhas afirmam ter visto o carro dele sair do chão e atingir o Honda Fit pelo teto, decapitando um dos jovens que estavam no outro carro.

Como se não bastasse nossos ilustríssimos parlamentares farrearem as nossas custas pelo mundo com seus familiares, amantes, prostitutas e sei lá mais o quê. Não bastasse nos deixar a mercê da insegurança, da falta de saúde, do abandono à educação, das péssimas condições das poucas estradas ainda sem a cobrança do pedágio e dos altos valores cobrados nas rodovias pedagiadas. Como se não bastasse tudo isso e mais outros tantos absurdos que eles nos esfregam na cara diariamente, agora vão matar descaradamente os cidadãos por irresponsabilidade no trânsito?

Os oitos air bags do carro importado do deputado, até o momento, o mantém vivo em estado grave no hospital. Talvez, esse assessório de proteção que a grande maioria dos eleitores dele não possui, o salvem dessa grande “M” que ele fez. Depois, deverá vir um outro assessório de proteção de deputados para protegê-lo da responsabilidade das mortes causadas. Um assessório chamado coleguismo. Vai aparecer um outro deputado qualquer dizendo que a “imprensa não tem moral para falar”, que “está pouco se lixando para o for noticiado, pois no fim eles se reelegem de qualquer jeito”. Gostaria de ver a coragem de um deputado desses para dizer isso na cara dos pais, irmãos e amigos destes dois jovens literalmente assassinados.