segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Estética da alma

É estranho pensar que as pessoas estão cada vez mais aficionadas pela perfeição estética. Se eu bem me recordo, até boa parte do século XIX o padrão estético era o oposto do exigido hoje, ao menos para as mulheres. Cuidados com a beleza era coisa de homem, e apenas para os membros da alta nobreza. Mulheres deviam ser gordas, muitas delas tinham buços assustadores e, ao que reza a história, raramente cheiravam a channel n5. A elas restavam apenas os suntuosos vestidos.

Com a libertação feminina, o abandono do desconfortável espartilho e a fogueira de sutiens, as mulheres descobriram a feminilidade dos detalhes. E como detalhe é uma coisa pequena a ser observada, quanto menor mais diferença faz.

Primeiro elas fecharam a boca e emagreceram, e estipularam que quanto menos pesassem mais atraentes seriam. Interessante é que elas tinham uma forma de comunicação tão eficaz quanto a internet dos dias atuais, pois cem por cento delas aderiram a primeira regra da beleza feminina moderna.

Em seguida, já com corpos magros e muitos anos de longos tecidos a frente, elas começaram a que seria a regra mãe da beleza até os dias atuais. Corpos pequenos imploraram por poucas roupas, biquínis quase invisíveis, micro saias, camisetinhas e shortinhos que mais parecem peças íntimas. Um verdadeiro banquete real para os glutões mal saídos do machismo imperial.

Repentinamente, um peso coletivo na consciência feminina vulgarizou o guarda-roupa delas e jogou fora boa parte das mini-peças, abrindo espaço para novos e fluídos figurinos.

Então um efeito interessante aconteceu no clube global feminino, e um novo código estético se instaurou. Beleza perfeita a partir de então deveria ter um acessório liquido gelatinoso aplicado aos bustos, normalmente caros e feitos por médicos, e quanto maiores mais belos. Sim! Estou falando do maravilhoso código dos silicones que trouxe, de carona no nécessaire, o botox.

Bobos os estudiosos conservadores de comportamento que achavam que o estica, puxa e implanta das peles era o ápice da busca pela perfeição estética feminina. Se os médicos encontraram uma nova e rentável oportunidade de consumo, por que os dentistas ficariam de fora. Então, num país de milhares de desdentados, seiscentos mil brasileiros já pagaram entre R$ 20 e R$ 30 mil para raspar parte dos seus dentes e colocar uma espécie de capa perfeita de dente, algo similar a uma unha postiça que tem o nome de “faceta de porcelana”. Próximo a me render ao clareamento dental a fim de ficar com dentes de propaganda de creme dental, fiquei ultrapassado.

Como estou no início das minhas pesquisas de comportamento e não sou nada conservador, começo a pensar que, em se tratando de busca pela perfeição estética, estamos caminhando para dentro do corpo. Em breve não será necessário pedir a Deus que perdoe nossos pecados e salve nossas almas, será mais fácil deixá-la perfeita antes de morrer, e assim conquistar o paraíso salvo e belo.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Holding x Moda

O que aconteceu em 2008 no cenário fashion business? Da noite para o dia, grupos de investidores brasileiros, com muito dinheiro na conta, resolveram comprar marcas fortes de criadores de moda, também brasileiros? Que súbito interesse é esse? Ficaram os investidores brasileiros insanos, ou teriam eles encontrado a fórmula mágica para driblar as dificuldades de exportação, a concorrência desleal dos asiáticos e, ainda, a forte concorrência criativa dos europeus?

Na verdade os “pobres” criadores brasileiros que se esfolam para manter suas mentes brilhantes concentradas, sem descuidar do caixa, dos altos e intermináveis impostos que as empresas têm que recolher mesmo antes de gerar qualquer tipo de receita já estão na mira de especuladores há bastante tempo, e a vulnerabilidade financeira da moda brasileira facilita esse tipo de negociação.

Há ainda um outro personagem não menos importante neste circo de interesses, que vem sendo minuciosamente estudado pelos consultores de investimentos: o consumidor de moda. Ao contrário da maioria dos estilistas, estes especuladores entenderam rapidamente a evolução do comportamento do consumo no Brasil, e perceberam que a moda é consumida em todas as classes sociais do nosso país. Que não existe mais uma distinção de compra de produtos nacionais, por motivos socioeconômicos.

O interesse de grupos investidores por grifes em ascensão não é uma novidade. Na Europa isso já acontece há décadas. Se essa prática só chegou ao Brasil agora, nada tem a ver com o fato de que sempre estamos atrasados em se tratando de moda. Três fenômenos contribuíram para esse compra-compra de marcas aqui no Brasil: estabilidade econômica, amadurecimento profissional e, principalmente, comportamento do consumidor brasileiro.

Os brasileiros passaram a consumir moda, independente da posição social em que se encontrem. As grandes redes de lojas como Renner e C&A deram início a um fenômeno de comportamento de consumo jamais visto na moda. Classes “C” e “D” passaram a ter acesso a produtos de qualidade e em perfeita harmonia com as tendências ditadas por “fashionistas”. Com isso, um outro fenômeno social se estabeleceu na sociedade brasileira. Ricos e pobres freqüentam os mesmos ambientes de compras, consomem os mesmos produtos e, por alguns momentos, se tornam iguais. Se Marx ou Sartre ainda estivessem na ativa, talvez tivessem dificuldades para tecer suas teorias de divisão de classes.

Será que existe ainda um outro fenômeno que pode ajudar a explicar isso tudo? Sim! O famoso lucro rápido que os empresários brasileiros tanto gostam. Mesmo não sendo um daqueles adivinhos econômicos, não me surpreenderia se em breve estes produtos adquiridos por grupos brasileiros mudarem de mãos – e idioma, claro, por valores bem mais atraentes.
Atendimento nosso de cada dia

Quem está satisfeito com o atendimento que recebemos nos variados serviços que usamos, ou dependemos, todos os dias? Eu, particularmente, não estou nada satisfeito. Em São Paulo, por exemplo, a capital de tudo no Brasil, sou mau atendido em quase todos os lugares que freqüento. Vejamos dois fatos:

Caso 1
Sábado, meio da tarde, resolvo ver um filme no cinema de um shopping da zona norte. Diferente do que eu esperava, não havia um movimento assustador. Após alguns minutinhos de fila eu chego até o guichê, digo um educado “boa tarde” e peço uma meia entrada para o filme que eu já havia escolhido muito antes de chegar até ali. Além de não retribuir ao cumprimento, a atendente imprimiu o ingresso para o filme errado e, após eu corrigi-la, achei que ela iria passar pelos furinhos do vidro e me atacar. Não tive tempo nem de dizer que o erro era dela, e que era ela quem estava na posição de prestadora de um serviço pago por mim.

Caso 2
Domingo, próximo ao meio-dia, quando percebo que me falta batata-palha para eu finalizar um estrogonofe em casa. Desço até a padaria, entro, cumprimento a atendente que me responde friamente com um sotaque arrastado. Pergunto se eles têm batata-palha. Ela me responde apontando com o dedo para uma gôndola, que para a minha surpresa, seu apontamento é voltado para uma lata de batata pringles. Talvez ela tenha acreditado que eu iria ralar cada batata daquela lata. Agradeci e já de saída eu vejo pacotes de batatas-palha muito próximo dos olhos de ambos. Peço, pago e vou-me embora intrigado.

A impressão que me passa ao enfrentar todos estes problemas de atendimento é que não estamos evoluindo como sociedade. De um lado, nós consumidores que não exigimos serviços de qualidade e, principalmente, atendimento cordial. Do outro, pessoas desinteressadas nos trabalhos que executam, pouco se importando se aquela é a única fonte de renda que tem. Pouco preocupadas em crescer.

As grandes cidades, inchadas de pessoas provindas de áreas miseráveis, ao chegar, mal falam por medo, mas imploram com expressões por trabalhos de mão de obra e atendimento. Ao se estabelecerem, se acham no direito de atender com mau humor, com rispidez, sem paciência e com pouquíssimo conhecimento ou boa vontade em sanar a necessidade ao qual o cliente está pedindo.

O pior é que se reclamamos para os proprietários ou patrões destas pessoas, teremos que conviver com a culpa de ter promovido a retirada da única fonte de renda daquela pessoa que, talvez, possa até passar por necessidades. A solução talvez seja pedirmos gentileza quando entrarmos em estabelecimentos comerciais.

_ Pois não senhor?
_ Boa tarde! Por favor, você tem educação?
Carnaval Temporão

Se é impossível agradar a Gregos e Troianos, o que podemos dizer da dificuldade de afagar os brasileiros? Todo início de ano é a mesma ladainha: começo de ano é uma tristeza para os negócios. O ano só começa depois do carnaval. Temos que rebolar para sobreviver até o fim do carnaval. Entre outras dezenas de reclamações.

Mas este ano tudo seria diferente, se não estivéssemos falando de Brasil, claro. O carnaval acontecerá no início de fevereiro, fenômeno com precedente apenas ocorrido no início do século vinte, quando as comemorações de carnaval ainda eram apenas alguns blocos de marchinhas que saiam pelas ruas em algumas cidades.

Mas o comportamento econômico brasileiro já está estampado nas capas dos principais jornais, resumido em uma única palavra: prejuízo. E nos defrontamos novamente com as eternas choradeiras. Agora a reclamação é que as pessoas terão menos tempo para gastar dinheiro em função da antecipação do carnaval. Vai entender. Como se não fosse possível prever com bastante antecedência que, em 2008, ocorreria essa temporalidade e, por sua vez, os chorões se precavessem.

A verdade é que aprendemos a reclamar de tudo para ver se tiramos algum tipo de vantagem da situação. Para ver se postergamos algum pagamento. Para ver se nos livramos de algum vendedor ou pedinte. Aliás, não tomei nenhum prejuízo com esse carnaval antecipado, mas para não perder o hábito, achei essa data um grande problema para a minha programação de folia. Ainda bem que a próxima vez que isso ocorrerá será somente no final deste século, até lá já terei parado cair na folia.