terça-feira, 10 de novembro de 2009

A revolução de saia curta

O que mais chamou a atenção no episódio da Uniban não foi a garota loira, e gordinha, usando um vestido curtissimo e brega. Tão pouco a atitude da universidade em expulsar a garota por isso. Homens e mulheres de péssimo gosto para se vestir tem aos porres por aí. Educadores que abrem faculdades apenas com propósito financeiro e, portanto, despreparados para lidar com situações educacionais, também não são nada incomuns. O que mais chamou a atenção nisso tudo foi o comportamento dos demais alunos.

Inicialmente eu vi ali uma grande hipocrisia coletiva. Aliás, que a carapuça poderia sair dos corredores da uniban e viajar por muitas cabeças mundo a fora. Mas esta semana um amigo revolucionário, cuja inteligência e visão estão sempre um passo a frente, levantou outra hipótese. Este meu amigo viu e ouviu naquela ocasião, jovens clamando por uma causa. Por algo qualquer que eles pudessem protestar, gritar se manifestar. Por algo que os iguale aos seus pais e tios que enfrentaram a ditadura. Por algo que os compare aos seus avós que viveram a guerra. Quando eles gritavam: VADIA!! VAGABUNDA!! Eles queriam dizer: “ÃO ÃO ÃO, ABAIXO A CORRUPÇÃO! CHEGA DE TANTA BANDALHEIRA NA POLÍTICA!! FORA SARNEY!!

A geração que faz maior número dentro das escolas de ensino médio até o ensino superior nasceu a partir da década de 80, depois do último grande evento político que foi a ditadura. E isso já faz mais de duas décadas.

O mesmo ocorre em estádios de futebol. Pessoas, aparentemente, normais. Estudantes, profissionais, pai de família, irmão, filho, etc. Todos se tranformam ao primeiro grito pelo time. Ignoram que do outro lado pode estar um colega de trabalho ou um vizinho. Desprezam o fato do outro ser, também, uma pessoa normal, estudante, profissional, pai de familia, irmão... Lutam como se estivessem derrubando algo que os oprime. Descarregam uma ira contra sei lá o que ou quem.

Talvez o cubano tenha razão. Falta-nos uma causa para lutar. Homens e mulheres com mais de 12 anos já são capazes de entender que são mais inteligentes e corretos do que essa matília velha que circula pelo poder. Que pouco ou nada fazem para mudar a desigualdade humana. Que apenas lançam mão de projetos que atendam suas apirações de carreira pública. Sem perceber, esses jovens vão se enchendo desse discurso barato e fora de moda. E já que revolução está fora de moda, acabam soltando seus demônios em ações descabidas como as brigas de torcida, os ataques racistas e protestos infundados como este contra a garota loira com vestido curto e cafona. Aposto que, após enxovalharem a menina, todos foram para algum dos muitos bares em volta da faculdade para beber e comemorar a vitória. Como faziam os soldados após as batalhas, ou os rebeldes após os confrontos contra os milicos. E viva a revolução de armas portáteis com três ou quatro gigas de memória...

2 comentários:

Anônimo disse...

Então vamos nos organizar e vamos por ordem na casa. Viva la revolucion... ótimo texto, parabéns

Nina Garimpa disse...

Robson, como vai? Aqui é a Aline que trabalhou com você em NH. Preciso do seu e-mail pessoal, por favor, me escreva. Obrigada.