quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Mais respostas, menos perguntas

A administração pública é reflexo da participação da sociedade e da atuação da imprensa na sociedade. A primeira pouco faz. Quando muito, se indigna quando a segunda denuncia algo. Ultimamente não tem passado disso. O problema é que muitos veículos, ou estão comprometidos com alguma gestão pública ou o jornalista tem medo de questionar, de apertar o político, o policial ou quem quer que seja. Alguns repórteres vivem a reclamar que fulano ou ciclano nunca fala com a imprensa. Mas, quando fala, fica um jogo de perguntas medrosas e respostas perdidas. Ninguém aperta. Quase nunca se ouve: “deputado, não foi isso que eu lhe perguntei. O senhor pode ser mais objetivo na sua explicação? É mais comum ouvir: “vereador, onde foi parar o dinheiro? Veja bem, o jogo é duro, truncado, adversário forte, bla bla bla...”

Tomamos por base um caso recente. A chacina da vila Icaraí, uma favela de Curitiba, a cidade modelo do país. Dez dias depois que um bando de idiotas atiraram para todos os lados e mataram 8 pessoas, o Secretário de Segurança Pública, Luis Fernando Delazari - que acompanhou as investigações de Nova Iorque - convocou uma coletiva de imprensa para dizer que o todos os responsáveis haviam sido preso, e que não passavam de muleques que não tinham dinheiro nem para comprar crédito para o celular. Que foram encontrados no meio do mato. Mas que o caso estava elucidado e todos estavam presos.

Conspirações políticas ou não, a partir daí os jornais passaram a noticiar crimes violentos em Curitiba e Região Metropolitana. O Secretário foi “convidado” para ir a assembléia legislativa para apresentar os números da segurança pública. Foi aquele vou num vou até que marcou a data. Dois dias antes ele convoca outra coletiva de imprensa para divulgar uma mega operação que prendeu quase 300 pessoas. Um deputado chamou a operação de “nuvem de fumaça”. A imprensa explorou, mas não foi muito longe. A operação foi um tanto estranha mesmo. Não que ela não tenha ocorrido. Mas cinco meses para pegar mil e duzentos quilos de maconha e pouco mais de três quilos de cocaina num estado que é considerado rota do tráfico de drogas no Brasil.

Essa semana, outra coletiva de imprensa. Dessa vez na sede da Divisão de Narcóticos (Denarc). Prenderam três pessoas com armamento pesado, explosivos... coisa que nem o exército tem. De acordo com a polícia, estas pessoas podem estar ligadas ao bando que cometeu os crimes na vila Icaraí, a tal chacina. Mas, espera um pouco. Este caso não havia sido elucidado? Os criminosos não eram um bando de muleques que não tinham dinheiro nem para comprar crédito para o celular? Derrepente o tal “Nardão do Iacarí” passou de muluque para chefe de quadrilha de tráfico de armas pesadas? E aí? É melhor divulgar ou questionar?

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