segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Holding x Moda

O que aconteceu em 2008 no cenário fashion business? Da noite para o dia, grupos de investidores brasileiros, com muito dinheiro na conta, resolveram comprar marcas fortes de criadores de moda, também brasileiros? Que súbito interesse é esse? Ficaram os investidores brasileiros insanos, ou teriam eles encontrado a fórmula mágica para driblar as dificuldades de exportação, a concorrência desleal dos asiáticos e, ainda, a forte concorrência criativa dos europeus?

Na verdade os “pobres” criadores brasileiros que se esfolam para manter suas mentes brilhantes concentradas, sem descuidar do caixa, dos altos e intermináveis impostos que as empresas têm que recolher mesmo antes de gerar qualquer tipo de receita já estão na mira de especuladores há bastante tempo, e a vulnerabilidade financeira da moda brasileira facilita esse tipo de negociação.

Há ainda um outro personagem não menos importante neste circo de interesses, que vem sendo minuciosamente estudado pelos consultores de investimentos: o consumidor de moda. Ao contrário da maioria dos estilistas, estes especuladores entenderam rapidamente a evolução do comportamento do consumo no Brasil, e perceberam que a moda é consumida em todas as classes sociais do nosso país. Que não existe mais uma distinção de compra de produtos nacionais, por motivos socioeconômicos.

O interesse de grupos investidores por grifes em ascensão não é uma novidade. Na Europa isso já acontece há décadas. Se essa prática só chegou ao Brasil agora, nada tem a ver com o fato de que sempre estamos atrasados em se tratando de moda. Três fenômenos contribuíram para esse compra-compra de marcas aqui no Brasil: estabilidade econômica, amadurecimento profissional e, principalmente, comportamento do consumidor brasileiro.

Os brasileiros passaram a consumir moda, independente da posição social em que se encontrem. As grandes redes de lojas como Renner e C&A deram início a um fenômeno de comportamento de consumo jamais visto na moda. Classes “C” e “D” passaram a ter acesso a produtos de qualidade e em perfeita harmonia com as tendências ditadas por “fashionistas”. Com isso, um outro fenômeno social se estabeleceu na sociedade brasileira. Ricos e pobres freqüentam os mesmos ambientes de compras, consomem os mesmos produtos e, por alguns momentos, se tornam iguais. Se Marx ou Sartre ainda estivessem na ativa, talvez tivessem dificuldades para tecer suas teorias de divisão de classes.

Será que existe ainda um outro fenômeno que pode ajudar a explicar isso tudo? Sim! O famoso lucro rápido que os empresários brasileiros tanto gostam. Mesmo não sendo um daqueles adivinhos econômicos, não me surpreenderia se em breve estes produtos adquiridos por grupos brasileiros mudarem de mãos – e idioma, claro, por valores bem mais atraentes.

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