terça-feira, 30 de setembro de 2008

Eu quero ser o Washington Olivetto

Velho, rico, inteligente, criativo, influente e, melhor, pode falar o que bem entende que todo mundo vai aplaudir, achar engraçado ou concordar, mesmo que em segredo.

Habituado a assistir ao programa do Jô, numa noite dessas o entrevistado era o Sr Washington Olivetto, publicitário, presidente de uma das maiores e mais influentes agências da América Latina, a W/Brasil, o Sr Olivetto se mostrou muito à vontade ao lado do Sr Jô Soares. Foi uma espécie de “papo de boteco”, porém, num tom bastante alto, onde dezenas de pessoas puderam ouvir presencialmente, e outras milhares através da televisão.

Sem dúvida, ouvir casos - e causos - de um dos maiores publicitários brasileiros de todos os tempos por si só já valeriam as horas de sono perdidas. Porém, o mais interessante foi o comportamento do Sr Olivetto. Ele deixou claro que é rico, tem bom gosto, que é muito influente e que detesta bajulação de interesseiros ou tietagem de estudantes de publicidade. Ele não fez isso para convencer futuros clientes, pois isso ele já nem precisa mais. Eu até arriscaria dizer que são os clientes que devem convencê-lo a trabalhar para eles. Ele fez isso porque não deve ter paciência para ser hipócrita. Para fazer discurso de o “politicamente correto”. Até por que, assumir alguns privilégios merecidamente conquistados não é nem de longe incorreto.

O Brasileiro, e acredito que outros povos não sejam diferentes, têm a obrigação de ser hipócrita. A hipocrisia nada mais é do que falar uma coisa e fazer outra. Todo mundo gostaria de ganhar muito dinheiro, ser reconhecido, viajar, pagar uma conta de restaurante de dois mil reais (ou mais), andar de carro importado, enfim, de viver uma vida luxuosa. O problema é que da janela pra fora do carro a realidade grita muito alto no seu ouvido, e ter dinheiro no Brasil é quase que motivo de vergonha ou constrangimento. Isso sem falar da violência.

A hipocrisia está em quase todos os discursos. “Eu condeno cruelmente qualquer atitude contra o meio ambiente. Mas depois de um dia cansativo de trabalho eu não abro mão de um banho quente e demorado”. “É impossível acreditar que ainda existam pessoas que não separam seus lixos. Mas meu carro e meu telefone celular eu tenho que trocar todo ano”. “Bebeu e dirigiu tem que ir pra cadeia mesmo”. Mas fiz isso a minha vida toda e, se por acaso eu tomar uma taça de vinho e for pego no bafômetro, “a lei é muito severa, e isso tudo não passa de uma nova forma de arrecadação”. Eu desaprovo qualquer tipo de discriminação ou preconceito. Mas se meu filho me disser que é homossexual eu vou perguntar: “onde foi que eu errei”. “Se um homem negro vier na minha direção numa rua pouco movimentada, ou uma criança pobre se aproximar no sinal, eu vou desviar ou vou ficar com muito medo”.

Portanto, como diz o poeta Jorge Bem Jor:“alô alô W.O./Brasil... a cabeça do Olivetto é igual a uma cabeça de nego”.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

O Lula tem meu telefone

Quando eu penso que já vi e ouvi tudo em relação a política, logo percebo que as maiores atrocidades ainda estão por vir. Em período eleitoral então, chega a ser um abuso, ultrapassando o limite até mesmo dos mais pacientes. Tudo bem, isso não é nenhuma novidade. Todo o pleito eleitoral é a mesma coisa. Um bando de desesperados querendo se dar bem na carreira política à custa dos cofres públicos. A maioria dos candidatos sequer consegue terminar uma única frase sem assassinar a língua portuguesa.

Se não bastasse esse bando de ignorantes que invadem a nossa casa, carro, escritório, nossa vida, eis que eu recebo uma ligação no meio do dia, na minha mesa de trabalho, numa sexta-feira daquelas, e quem estava do outro lado da linha? Ninguém menos do que o presidente da república. Sim, o próprio Luiz Inácio LULA da Silva. Num primeiro momento eu quase tive um “treco” de emoção. Depois, eu tive um “treco”, de raiva.

_”Olá, aqui é o presidente Lula. Gostaria de falar com você que ainda não se decidiu em quem votar pra prefeito em Curitiba. Devo lhe afirmar que a Gleice é a melhor opção para esta cidade. A Gleice conhece os problema [s] e as soluçõe [s] para Curitiba... bla bla bla bla... Portanto, no dia 5 de outubro, vote na Gleice”.

Ora senhor presidente. Se o senhor está com tempo sobrando, ou não sabe o que fazer do cargo pelo qual foi eleito por milhares de brasileiros, eu posso listar algumas das atividades que eu, cidadão e eleitor brasileiro, gostaria que senhor fizesse. Aliás, eu posso listar milhares.

Estamos em meio a uma crise de extrema atenção no mercado financeiro internacional. Vivemos um momento crítico na política sul-americana. Isso sem citar os inúmeros problemas aqui mesmo no Brasil. Denúncias contra um grande número de parlamentares, juízes, delegados, senadores e outras criaturas as quais eu me obrigo a tolerar pelo descaso da maioria dos eleitores brasileiros. Com tudo isso, o senhor ainda tem tempo para me ligar, e a cara-de-pau de me dizer que conhece mais do que eu os problemas da minha cidade, e ainda ousa em me dizer em quem eu devo votar?
Ao final da ligação, mesmo sendo uma gravação, eu fui obrigado a gritar em alto e bom tom a frase célebre de um grande amigo, gaúcho de Bento Gonçalves: _ “Presidente, vai tomar um passe tchê”.