terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Um conto de natal

_Se você for um bom menino, o papai noel vai te trazer um presente.
_Se você tirar boas notas, o bom velhinho vai te dar um brinquedo.
_Se você obedecer o papai e a mamãe, ganha presentes no natal.

Toda criança já deve ter ouvido esses sábios, porém, chantagiosos conselhos.

Infelizmente não são todas as crianças que já ouviram isso. Muitas crianças ouvem apenas ordens de adultos covardes disfarçados de pais, que trocam os cadernos por enxadas, e a sala de aula por fábricas de tijolos ou lavouras de cana.

Trabalho infantil é crime. Mas isso todos sabem e até se dão ao luxo de ficar indignados quando a cena de uma criança cortando cana ou quebrando pedras invade o noticiário no horário nobre. Imediatamente cobramos pena máxima para os exploradores. Sejam eles os patrões ou os genitores.

Porque não nos indignamos na mesma proporção com a quantidade cada vez maior de crianças que são exploradas nos cruzamentos das grandes cidades. A mendicância infantil nos faróis também é crime. Uma criança vendendo balas, fazendo malabares ou apenas pedindo esmolas no sinal, diuturnamente, é tão ou mais cruel quanto a escravidão da lavoura ou das olarias. Mas quando nos indignamos com essa prática, punimos com a contribuição de uma moeda.

Nessa época do ano então, quando ficamos mais generosos, a covardia aumenta. Na cidade de São Paulo, há provas cabais de muitas famílias que migram do interior nos fins de semana, após longa e dura jornada de trabalho na roça, para entregar seus filhos a sorte das esquinas da cidade grande. Essas crianças passam horas sob sol ou chuva, entre um carro e outro, a mercê da maldade, da violência, do aliciamento do tráfico, da prostituição e do sentimento de culpa ou medo dos motoristas que se desfazem das moedas deixadas nos consoles, na crença de que estão fazendo algum tipo de caridade.

De quem é a culpa?

Dos pais que, sem saída para driblar a fome, descobriram que cada criança pode render cerca de dois mil reais por mês num bom ponto de coleta de esmolas? Dos generosos motoristas que se comovem com o rostinho triste, sujo e machucado que bate na janela clamando por um trocado?

NÃO!! A culpa é da ganância política e do silêncio de todos. Da covardia que assola a administração pública. Do vereador ao presidente da república. A violência política ultrapassou todos os limites da vergonha. A preocupação com o próprio umbigo é tamanha, que os caras-de-pau sequer se constrangem quando enfiam os maços do fétido dinheiro em meias e cuecas na frente dos seus corruptores. Parecem um bando de esfomeados que entraram de penetra numa festa de aniversário, e querem levar tudo que puder nos bolsos. E ainda rezam em agradecimento, como se estivessem agradedendo a deus na mesa do jantar pelo alimento conseguido com o suor do trabalho.

Outro dia eu conversava sobre tudo isso com uma pessoa bastante esclarecida e profissionalmente bem sucedida. Me impressionou o modo como ele defendia as políticas destes e de outros governos. Quando eu disse que a solução era simples, que bastava boa vontade política para tirar 100% das crianças das ruas e colocar em escolas de período integral, permitindo assim que seus pais pudessem trabalhar sabendo que, independente do seu sucesso, seus filhos teriam melhores condições. Esta pessoa falou prontamente: “não é bem assim. Não é tão simples assim”.

Ora! Difícil é engolir um escândalo político atrás do outro. Duro é ver presidente deposto voltar ao senado a bordo de helicóptero cor-de-rosa. É saber que o filho do filho do Brasil, por sorte, virou um dos maiores latifundiários do país. E ver que o patrimônio do governador dos panetones aumentou em 1000% depois que entrou na vida pública. Isso sim não é uma tarefa simples para mim.

E se esse texto indigesto lhe deixou com náuseas. VOMITE! Coloque para fora nas urnas em 2010. Não engula candidatos que tenham qualquer tipo de suspeita de corrupção ou ilicitude. Perca cinco ou dez minutos fazendo uma pesquisa sobre o passado do candidato que pretende votar. Não deixe se levar por candidatos apoiados por um filme que custou, direta ou indiretamente, trinta milhões de reais aos cofres públicos. Valor três vezes maior do que qualquer outra produção do cinema nacional. E que, coincidentemente, será lançado no ano da sucessão presidencial. Mude. Troque os que já tiveram suas chances e nada fizeram, por outros que nunca estiveram lá. E se ninguém lhe demonstrar confiança, não vote em ninguém. Deixe claro que você não aguenta mais o erro ou a conivência.

Agora, se este texto não significou nada para você por que não sabe ler, é bom se comportar direitinho. Caso contrário terá que entregar parte do que arrecadar no sinal para algum político para que ele não lhe tire o ponto.

FELIZ NATAL E, SE POSSÍVEL, UM BOM E PRÓSPERO 2010...
Bastardos inglórios

Tá tá tá! Vou escrever sobre a ridícula participação do Coritiba (Coxa) no campeonato brasileiro de 2009. Mas antes, peço que guardem bem este ano na memória, pois serão cobrados toda vez que questionados sobre um tal time que no ano do seu centenário demonstrou tamanha mediocridade.

Foi medíocre em campo a maioria dos jogos disputados. Foi medíocre e pouco honesto nos bastidores quando a sua diretoria não foi capaz de deixar o ego e o bolso de lado, para montar uma parceria forte, um time a altura dos seus cem anos de gramado. Foram medíocre os marginais travestidos de torcedores que acham que a descabida violência resolve alguma coisa.

Como torcedor eu estaria chateado se o time tivesse se esforçado para não cair e mesmo assim tivesse terminado com o rebaixamento. Mas nem isso os jogadores fizeram. Ficaria chateado se os dirigentes tivessem entrado em campo com o time desde o início da temporada, mas mesmo assim o time tivesse tido o azar de arbitragem ou qualquer outro fator que culminasse no rebaixamento. Mas nem isso a diretoria fez pelo meu time. Ficaria chateado se tivessemos perdido de cabeça erguida e com esportividade. Mas uma porção de bandidos manchou com sangue a bandeira do time e toda a imagem de uma cidade que se diz de primeiro mundo.

Isso pouca coisa muda na minha vida. Não fui atingido por nenhuma bomba e continuarei trabalhando e vivendo como sempre fiz. Mas espero que o próximo ano seja bem difícil para dirigentes, jogadores e os marginais que protagonizaram este espetáculo às avessas.