segunda-feira, 24 de março de 2008

“O último que sair rouba a luz”

Há rumores que esta frase esteve estampada em algumas salas do congresso nacional. Eu não arrisco um dedo a dizer que isso não seria possível. A corrupção no Brasil é mais forte e mais aceitável que a honestidade e a ética. Pior é o fato de que os brasileiros corretos, éticos e bem intencionados são, em muitos momentos, hipócritas.

Ser hipócritas em relação à corrupção e a desonestidade no Brasil não é um comportamento irregular ou que signifique alguma identidade com a falta de caráter dos corruptos. Preocupante talvez, mas comum e quase imperceptível na vida moderna. É apenas um discurso que, como orador ou ouvinte, prestamos atenção apenas por educação e civilidade.

Antes que a hipocrisia me leve ao banco dos réus, vamos refletir assim: dois cidadãos que levam uma vida “politicamente correta” conversam em uma mesa de bar sobre toda essa bagunça na administração pública. Um deles chega a se alterar quando fala dos abusos com os cartões corporativos. O outro, claro, concorda e ainda impõe mais um monte de palavras de repúdio. Após muita indignação regada à cerveja, cada um pega o seu carro e vai para casa. Roubar é condenável, dirigir após ter bebido é aceitável.

Chegamos a tal ponto de desordem social que o certo e o errado estão mais ligados ao teor do crime do que a palavra da lei. O erro mais hediondo serve de desculpa para os pequenos delitos ou infrações “leves”.

Outro dia eu lia uma entrevista do ex-presidente do conselho de ética, o embaixador Marcílio Marques Moreira, e uma das frases dele me chocou: “quem anda dentro da lei no é considerado um imbecil”. Me chocou, pois ele tem toda a razão. Somos criados, desde crianças, a apelar para erros “aceitáveis” a fim de superar obstáculos e vencer.

Ah! Desculpem o meu comportamento pouco educado, mas tenho que interromper essa conversa imediatamente, pois tem um guarda de trânsito logo ali na frente. Nos falamos outra hora.